CHEGUE NA PAZ

9 de dez. de 2017


Se és capaz de manter a tua calma 
quando todo o mundo ao teu redor 
já a perdeu e te culpa; de crer em ti 
quando estão todos duvidando, e para 
esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te 
desesperares, ou, enganado, não 
mentir ao mentiroso, ou, sendo odiado, 
sempre ao ódio te esquivares, e não 
parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar – sem que a 
isso só te atires, de sonhar – sem fazer
dos sonhos teus senhores. Se encontrando
a desgraça e o triunfo conseguires tratar 
da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver 
mudadas em armadilhas as verdades 
que disseste, e as coisas, por que deste
a vida, estraçalhadas, e refazê-las 
com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única 
parada tudo quanto ganhaste em toda 
a tua vida, e perder e, ao perder, sem 
nunca dizer nada, resignado, tornar 
ao ponto de partida; de forçar coração, 
nervos, músculos, tudo a dar seja o que 
for que neles ainda existe, e a persistir
assim quando, exaustos, contudo,
Resta a vontade em ti que ainda ordena:
 “Persiste!”

Se és capaz de, entre a plebe, não te 
corromperes e, entre reis, não perder
a naturalidade, E de amigos, quer bons, 
quer maus, te defenderes, se a todos 
podes ser de alguma utilidade,

E se és capaz de dar, segundo por 
segundo, ao minuto fatal todo o valor
e brilho, tua é a terra com tudo o que
existe no mundo e o que mais – 
tu serás um homem, ó meu filho!

(Rudyard Kipling)