CHEGUE NA PAZ

11 de mar. de 2012

A Velhice

Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico,
eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético.
A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo.


A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade,
pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria.
Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza,
totalmente diferente da beleza das manhãs.


A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa – talvez solitária.
No crepúsculo tomamos consciência do tempo.


Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel.
No crepúsculos as cores se põem em movimento:
o azul vira verde, o verde vira amarelo, a amarelo vira abóbora,
o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente.


Ao sentir a passagem do tempo nós apercebemos que é preciso viver
o momento intensamente. Tempus fugit – o tempo foge
portanto, carpe diem – colha o dia.


No crepúsculo sabemos que a noite está chegando.
Na velhice sabemos que a morte está chegando.
E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento
como uma alegria única.


Quem sabe que está vivendo a despedida
olha para a vida com olhos mais ternos...


Rubem Alves