CHEGUE NA PAZ

18 de dez. de 2011

Não me abandone

Você está vendo essas mãos?
São mãos cansadas, esgotadas
De tanto trabalhar na lida
De tanto viver nesta vida
Que hoje só querem e pedem
Um pouco mais de atenção.

Mãos que um dia lhe deram a vida
Mãos que te carregaram no colo
Mãos que te deram comida
Zelosas, curando a sua dor.

Mãos que te ensinaram a andar
Defendendo seus passos
Fazendo você se sentir seguro
Para o mundo poder enfrentar.

Mãos que te abriram as portas do universo
Ensinando você a ser forte, ter brios
Respeitar o ser humano mais próximo
E a cuidar bem dos animais.

Mãos que te guiaram na estrada
Afastanto pedras, abrindo caminhos
A olhar sempre à sua volta
Com os olhos do coração.

Mãos que te repreenderam com razão
Quando o castigo era inevitável.
Mãos que te acariciaram com amor
Quando a verdade era a sua resposta.

Mãos que te encaminharam a um futuro
Te ensinaram a ler, escrever
A subir os degraus da vida
Com coragem, caráter, seriedade.

Mãos que nas noites de frio
Sempre estiveram presentes
Sabendo lhe dar o aconchego
E aquecer seu coração.

Mãos que hoje se encontram
Sentindo-se abandonadas
Pelo seu sangue, sua carne
Expostas, em profunda solidão.

Só mãos trêmulas, calejadas
De um idoso carente,
Acabado, enfraquecido
Pelo peso da sua idade..

Mãos que já cataram lixo
Que já limparam o chão.
Que já passaram apertos
Dificuldades, humilhações.

Mãos que choram no abandono
Por perda da capacidade
De poder andar sozinha.
Precisando de um amparo
Um carinho, uma escora
Para continuar na vida.

Que vivem só das lembranças,
Recordações de um tempo
Distante, esmaecido
Pela ausência de memória.

Mãos que vivem na esperança
De um dia poder retornar ao passado
E ter você outra vez, ao seu lado,
Como nos tempos de criança.

Mãos que só esperam atenção,
Que só pedem paciência
Que clamam por sua presença
O calor da sua amizade.

Caridade, compreensão
O fim da ingratidão
Por estar por demais cansado,
E precisar de um apoio sincero
Uma luz na escuridão.

Poder recuperar sua honra
Perdida, tal qual sua memória
Para assim, quem sabe?
Continuar nesta estrada,
Na vida...
Com todo o amor
Ainda existente, com vida
Dentro do seu coração.

Neli Neto *Hylana*