CHEGUE NA PAZ

12 de jul. de 2011

Será preciso...

A criança estava ali, sentada na sua ilha. Ela olhava o mundo e refletia.

A criança viu as guerras e disse para si:
Será preciso pintar os uniformes dos soldados; e dos canos das suas espingardas fazer poleiros para as aves e flautas para os pastores.

A criança viu os famintos e disse para si:
Será preciso apanhar as nuvens com um laço e fazê-las chover nos desertos.
Será preciso vazar nos rios água e leite.

A criança viu a miséria e disse para si:
Será preciso aprender a somar, subtrair e multiplicar e, depois, dividir. Será preciso aprender a partilhar o dinheiro, o pão, o ar e a terra.

A criança viu os poderosos ordenarem, clamarem e decretarem e disse para si:
Será preciso abrir-lhes os olhos ou caçá-los.

A criança viu o oceano e disse para si:
Será preciso lavá-lo. E depois sentar-se em frente a ele e, simplemente sonhar.

A criança viu as florestas e disse para si como seria bom passear e aventurar-se por lá, escrever ali histórias para se perder na floresta; depois dormir sobre o musgo para as escutar.

A criança viu as lágrimas e disse para si:
Será preciso aprender a abraçar, a não ter medo dos beijos...

Será preciso aprender a dizer: Amo-te mesmo sem nunca o ter entendido.

A criança levantou a cabeça e viu a lua...

Uma bandeira espetada em frente... estúpida afronta!

E disse para si: Será preciso tirá-la e pedir-lhe perdão.

Enfim, da sua ilha, a criança olhou o mundo uma última vez...

Depois decidiu... Em que mundo vou nascer? Será preciso...

Thierry Lenaim - Educador, escritor e redator-chefe da Citroville.