CHEGUE NA PAZ

26 de jun. de 2011

Assistiu AVATAR? Vale a pena!

O filme Avatar apareceu num ótimo momento. Após o fracasso da Conferência do Clima em Copenhague e no início do Ano da Biodiversidade, foi um brado de alerta sobre nossa péssima relação com a natureza. Mereceu grande público pelos belos efeitos e pela fotografia extraordinária, porém, mais do que isso, apresentou uma poderosa mensagem ecológica: o homem precisa restabelecer sua conexão com a natureza.

Nos fala também de respeito ao próximo, homem, animal ou floresta, igual ou diferente de nós. O espectador é transportado para a lua Pandora, habitada pelo povo Na’vi, em um universo de experiências sensoriais encantadoras, com seres de formas jamais imaginadas, cores reluzentes e uma natureza exuberante.

Avatar propõe uma discussão pertinente sobre o futuro do nosso planeta, a Terra. Inova ao expor a monstruosidade do ser humano, personificado no cel. Miles, que destrói um mundo em perfeita harmonia, com uma brutalidade chocante, em cenas que provocam indignação. Mostra a inescrupulosidade do ser humano, até onde o homem é capaz de chegar para obter ganhos econômicos.

Quando a árvore-casa dos Na’vi cai, o desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica, o derretimento dos polos, a morte dos corais e dos oceanos, enfim, todas as desgraças provocadas pelo homem são evocadas. Vemo-nos atirando contra a natureza, só porque debaixo dela se encontra um minério valioso, que, para os humanos, resolveria a crise energética, uma vez que em 2154 – ano em que a trama se passa – não existe mais verde na Terra. Com a Terra arrasada, segue-se a colonização de outros mundos. Ao mostrar nossa mesquinhez, o filme pretendeu atingir o que ainda resta de consciência ecológica no ser humano.

O nome da lua, Pandora, é significativo. Na mitologia, Pandora, a primeira mulher criada por Júpiter, recebe dos deuses, presentes em forma de dons, como beleza, persuasão e música. Do marido, Epimeteu, recebe uma caixa contendo todos os males, com a advertência de não abri-la. Mas a curiosidade foi maior, e Pandora abriu a caixa, liberando pragas que atingiram o homem, restando apenas a esperança. Pandora não cuidou de sua caixa, e nós não estamos cuidando do nosso planeta.

Avatar nos adverte: a Terra é nossa caixa de Pandora. Se não soubermos preservá-la, será o nosso fim.

O filme é permeado de esperança. Na lua Pandora tudo está em equilíbrio. Uma árvore da vida, a deusa Eywa, sustenta as conexões entre as raízes de todas as árvores e entre todos os seres.

É uma teia, como as sinapses que ligam os neurônios em nosso cérebro. Acaso na Terra os sistemas também não estão interligados? Esse é o preceito fundamental da ecologia. Como dizia José Lutzenberger, em seu Manifesto Ecológico Fim do Futuro: tudo está relacionado com tudo. Tudo é uma coisa só. Embora nossa conexão não se realize diretamente, como ocorre por meio das tranças dos Na’vi, com os cavalos (Direhorses), animais alados (Banshee) ou com a própria terra... ela existe, só que está perdida pelo nosso afastamento da natureza.

Avatar nos diz que, se quisermos manter o direito de habitar na Terra, precisamos colocar-nos novamente em contato com a natureza.

O personagem principal, Jake Sully, consegue se libertar da cegueira e da ignorância e perceber a tempo a catástrofe que os humanos iriam desencadear em Pandora. Ao entrar em contato com os costumes dos Na’vi, Jake Sully, aos poucos, vai compreendendo a importância da harmonia ecológica de Pandora. Trata-se, além de conhecer os modos de alimentação
e locomoção, de como respeitar a vida em todas as suas formas.

Quando a jovem princesa Neytiri diz a ele “Eu vejo você”, ela não apenas vê, mas sente, percebe e respeita o outro. Para vivermos em equilíbrio com a natureza e com nossos semelhantes, é preciso “vê-los” profundamente.

Um aspecto interessante é que a vida no Avatar passa a ser mais real do
que a “vida real”. Isso pode instigar-nos a questionar: a vida que levamos atualmente nos proporciona qualidade de vida? Não está na hora de buscarmos qualidade de existência?

O filme nos mostra que as sociedades tidas como “primitivas”, até mesmo “selvagens”, têm mais sabedoria, e, geralmente, uma ligação com
a natureza muito mais rica do que a nossa.

Somos responsáveis pelo sistema econômico falho, excludente, perverso – que, apesar da crise, surpreendentemente permanece o mesmo – que, visando ao lucro e ao crescimento ilimitado, coloca a natureza como uma ‘pedra no sapato’ para atingir o “desenvolvimento”. O que nos falta, como mostra Avatar, é envolvimento.

O próprio nome “desenvolvimento” sugere um desligamento com o envolvimento, uma total desconexão com a Mãe Natureza, que só gera desequilíbrio para todos nós.

Estamos cada vez mais desconectados com a teia da natureza, preocupados em ganhar dinheiro custe o que custar. Mesmo que o preço seja a vida dos que ainda não nasceram ou até mesmo dos oceanos, das árvores e dos animais, não cogitamos alterar nossos hábitos de consumo, extremamente danosos aos recursos naturais, e, muito menos, mudar nossa matriz energética altamente poluente.

Ainda há tempo para salvar a Terra, basta nos reconectarmos. “Eu vejo você!”

Texto: Elenita Malta - Historiadora