CHEGUE NA PAZ

1 de mai. de 2011

A dor do abandono

Era uma manhã de sol quente, céu azul, quando um humilde caixão contendo um corpo sem vida foi baixado à sepultura...

De quem se trata? Quase ninguém sabe...
Umas poucas pessoas acompanhando o féretro...

Ninguém chora. Ninguém sentirá falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve...

Logo depois que o corpo desocupou o quarto singelo do asilo, onde aquele corpo havia passado boa parte de sua vida, a moça da limpeza encontrou em uma gaveta, ao lado da cama algumas anotações...

Eram anotações sobre a dor. Sobre a dor que alguém sentiu por ter sido abandonado pela família num lar de idosos. Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte deste sentimento, grafados em algumas frases...

Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças sorridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão?

Estarão tão ocupados talvez, que não possam me visitar ao menos para dizer, olá mamãe?

Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão... Se ao menos eu pudesse andar.. mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma de minha mão...

Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta de braços abertos para me envolver com carinho...

No começo a esperança me alimentava, mas, agora como esquecer que fui esquecida? Como engolir este nó que teima ficar em minha garganta, dia após dia? Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfazê-lo. Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima ...

Queria saber dos meus filhos... dos meus netos... Será que ao menos se lembram de mim? A esperança, agora, parece está atrelada aos minutos...

Às vezes, em meus sonhos vejo um lindo jardim...

É um jardim diferente que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos, onde braços afetuosos me esperam cheios de amor e alegria...

Mas, quando eu acordo é a minha realidade que eu vejo, minha realidade que eu vivo... que eu sinto...

Um dia alguém me disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso. E esse alguém voltou para provar isso, mesmo depois de ter sido crucificado e sepultado. E esta é a única esperança que me resta.

Sinto que a minha hora está chegando...

Depois que eu partir gostaria que alguém encontrasse estes meus escritos e os divulgasse...

Que eles pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam. E que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado.