CHEGUE NA PAZ

25 de dez. de 2010

Oração a mim mesmo

Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.
Falar menos.
Chorar menos.
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Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que, prepotentemente, penso que têm.
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Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática, as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.
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Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
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Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos.
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Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis
aqueles que morrem...
e ressuscitam
a cada novo fruto
a cada nova flor
a cada novo calor
a cada nova geada
a cada novo dia.
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Que eu possa sonhar o ar
sonhar o mar
sonhar o amar
sonhar o amalgamar.
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Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do impossível, da imensidão de toda profundeza.
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Que eu possa substituir minhas palavras
pelo toque
pelo sentir
pelo compreender
pelo segredo das coisas mais raras
pela oração mental
(aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde).
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Que eu saiba dimensionar o calor
experimentar a forma
vislumbrar as curvas
desenhar as retas
e aprender o sabor da exuberância
que se mostra
nas pequenas manifestações
da vida.
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Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada instante.
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Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam minhas dúvidas.
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Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meu destino com dignidade.
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Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo:
Que eu não tenha medo de meus medos!
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Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças.
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Que eu faça de mim um homem sereno
dentro de minha própria turbulência
sábio dentro de meus limites
pequenos e inexatos
humilde diante de minhas grandezas
tolas e ingênuas
(que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez).
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Que eu me permita ser mãe
ser pai
e, se for preciso
ser órfão.
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Permita-me eu ensinar o pouco que sei
e aprender o muito que não sei
traduzir o que os mestres ensinaram
e compreender a alegria
com que os simples traduzem suas experiências
.
Respeitar incondicionalmente
o ser
o ser por si só
por mais nada que possa ter além de sua essência
auxiliar a solidão de quem chegou
render-me ao motivo de quem partiu
e aceitar a saudade de quem ficou.
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Que eu possa amar e ser amado
Que eu possa amar mesmo sem ser amado
fazer gentilezas quando recebo carinhos
fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.
.
Que eu jamais fique só
mesmo quando
eu me queira só.
Amém.

Oswaldo Antônio Begiato